sábado, 14 de maio de 2011

Medos

- Ah, e antes que eu me esqueça, nunca me passou pela cabeça te pedir perdão - a voz dele ecoou novamente em sua mente.

Por mais que o tempo passe, sempre existem coisas que ninguém esquece. Essa frase era uma delas, ainda mais porque toda vez que ouvia Frejat cantando exatamente esse trecho, chorava, sem saber ao certo porque aquela frase tinha sido dita. Afinal, o que ela mais precisava vindo dele era isso: o pedido de perdão.
Do outro lado da moeda estava ele que havia pronunciado a tal frase assim como um impulso. E se arrependia - ah! como se arrependia... Foi tudo por medo. E o que mais desejava fazer era pedir perdão.
Mas sabe por que o medo? Ele gostaria que ela soubesse... Foi medo de amar. Medo de ser feliz. De ser dependente do outro. Medo do vício, das sensações. Medo do sentimento nunca provado antes. Medo de se arriscar, de se entregar completamente por algo tão incerto. Sim, porque o amor é incerto... Nunca se sabe quando o outro pode decepcionar-se tanto que passe a não te amar mais ou, pior, amar outro. Medo dessa loucura, inconsequência. Medo também das consequências. Medo de falhar, de entristecer. Medo de não saber amar. Medo de prender-se tanto em outra pessoa e não ver mais como desvencilhar-se. Medo de perder a identidade por não existir mais "eu" sem o "outro". Medo de não saber o que fazer, o que dizer. Medo de ver sua felicidade ligada a algo tão abstrato. E que, por ser abstrato, não sabe-se ao certo o que é. Medo de ver sua felicidade e de, algum tempo depois, notar que ela é apenas uma miragem. Medo de chorar. Medo da dor. Medo, até mesmo, dos carinhos, pois eles podiam gerar vícios. E como se livrar da necessidade depois do amor não existir mais? Medo de ficar enfeitiçado por um sorriso. Medo do olhar. Medo da falta de lucidez.
Ela compartilhava de todos esses medos, mas a diferença é que, por querer sentir o amor dele, quis encarar, enfrentar e lutar com todos os medos, cara a cara. E ele não permitiu-se encarar; escondeu-se. Por isso precisava tanto pedir perdão: queria, com toda a sinceridade, amá-la.

Dim dom - fez a campainha.
Uma caixa em formato de coração.
Pegou-a, estava vazia. Vazia não, quase vazia. Havia uma carta, escrita por alguém cuja a letra era muito familiar. Ela fixou os olhos nela.
"Era mentira. Todos esses meses a minha única vontade foi te pedir perdão. Perdão por ter tido medo, perdão por não saber amar, perdão por fugir da minha felicidade que é e sempre foi você. Dizer que isso nunca tinha me passado pela cabeça foi apenas uma forma de esquivar-me do amor e, consequentemente, dos meus medos. Porém o sofrimento longe de você é muito maior do que qualquer coisa que eu possa enfrentar estando contigo; até porque, com você, enfrentaremos juntos. Essa tristeza da distância me faz querer lutar, a cada dia mais, pela nossa felicidade e me faz querer entrelaçar sua felicidade com a minha para o resto da vida. Sabe por que a caixa de coração está vazia? Porque, mesmo depois de todo esse tempo, meu coração ainda pertence a você. E ele está com você desde o dia em que te conheci. Foi a coisa mais sensata que fiz: por mais que tivesse medo, entreguei o meu coração mesmo sem querer para você. Porém isso nos deixou ligados pro resto da minha vida, pois não aceito devolução. Agradeço a um dos únicos momentos de loucura que tive enquanto estivemos juntos.
Eu desejo passar mais infinitos momentos de loucura e insensatez ao seu lado. De felicidade. De tristeza. De insanidade. De dependência. De vício. Mas, principalmente, de amor.
O meu maior medo era que a minha felicidade pertencesse a você. Mal sabia eu que já pertencia, antes mesmo de me dar conta de que existiam tantos medos."

(Uma OBS importante: Não. Eu não tenho todos esses medos. Meus medos são bem diferentes. Não tenho medo de amar, e não tenho medo do amor. Talvez seja insegura, tenha outros tipos de medo. Esse texto não é baseado em mim. É baseado nas pessoas - que são muitas - que tem medo de amar, e medo de se abrir pra esse sentimento tão lindo. Na verdade, esse texto foi inspirado exclusivamente em um texto (lindo, por sinal) que li há poucos dias, mas que abrangia o medo do amor e, assim, a repulsa a ele. É isso, só pra esclarecer.)