sábado, 28 de abril de 2012

Inatingível


Por mais que me pareça impossível me afastar dos pensamentos, quando sento no balanço, tudo evapora. O mundo se desliga por um instante e o vento tocando meus cabelos é a única coisa que posso sentir. De olhos fechados, sentindo todos os movimentos, consigo perceber todos os problemas e aflições indo para longe... voando para qualquer lugar que não dentro de mim. Sinto-me livre, a voar pela primeira vez. Mesmo tendo feito muito esse balanço ao longo da vida, sempre parece-me a primeira vez. É como se eu me deslocasse do mundo em que eu vivo para a felicidade instantânea. Para aquilo que eu gostaria de viver para sempre. É uma sensação eterna, infinita, que dura apenas alguns minutos, até meus músculos sentirem dor e eu ser obrigada a parar. Subitamente sinto todos os pensamentos invadirem-me novamente, aquela música que diz "estou feliz por você ter vindo", ou também aquela que diz que "eu sinto falta do seu corpo junto ao meu", ou qualquer coisa parecida. Todas as letras melosas, tudo, me cerca, me destrói.
Mas, enquanto eu estou naquele balanço, sou inatingível...

domingo, 8 de abril de 2012

Sem saída

"- Você pode vir aqui um pouco? - Ferrou. Esforços inúteis para tentar me manter sensata diante dele.
Ao invés de perguntar 'para que?' como qualquer pessoa normal faria, eu simplesmente fui, sem pensar em nada. Como sempre acontecia quando eu estava com ele. Nunca conseguia pensar em nada. Nada que não fosse ele, é claro.
Levantei-me cuidadosamente da rede, com medo de pisar em falso, já que parecia não existir mais chão. Tentei, em vão, acalmar meu coração, que palpitava muito mais do que eu pensei que ele fosse capaz. Tentei também não olhá-lo, porém seus olhos em mim, puxavam-me para eles e foi impossível não encará-lo.
Infinitos segundos se passaram, ao meu ver, até eu sentar-me na ponta do colchão e olhar em seus olhos.
- Pode chegar mais perto?
'Não, não posso...', pensei. Mas quem disse que eu agia de acordo com meus pensamentos? Quando ouvia sua voz, ela chegava aos meus ouvidos e todos os meus membros a atendiam, sem consultar o meu cérebro. Cheguei mais perto. Perigosamente perto: 'Perigo, perigo!', minha mente tentou avisar. Inutilmente.
- Pode falar... - tentei pronunciar, mas foi praticamente um sussurro.
Segurou meu rosto com delicadeza, pousando seu olhar - aquele abismo em que eu precisava me atirar - nas profundezas mais longínquas dos meus olhos.
- Eu nunca te esqueci - atirou as palavras, sem aviso prévio, me deixando sem saída, sem nenhuma escapatória. Aproximou nossos rostos e eu só tive tempo de dizer uma coisa:
- Nem eu."

terça-feira, 3 de abril de 2012

Lembranças

Eram aqueles momentos que sempre voltam. Que cismam em nos perturbar e nos tirar do eixo - se é que possuímos algum. E eram aqueles momentos felizes, que nos fazem arrepender de não os termos mais. Nunca eram tristezas que confirmavam ainda mais nossas escolhas.
O amor foi duradouro e passageiro. Esses dois extremos se interligaram de uma forma tão linda que foi muito mais intenso do que qualquer um pode perceber. Passageiro porque foi tão rápido que mal deu para sentir seu gosto; e duradouro porque, de certa forma, ainda persiste. Talvez mais forte que antes. Mas de todas as dúvidas, pode-se tirar uma certeza: foi amor. E é amor. Talvez sempre seja amor. E é isso que faz com que essas lembranças felizes voltem. O amor, puro e por si só, só vê a beleza. E a beleza está em todas as vezes que dissemos 'eu te amo'; em todas as vezes que nos olhamos com aquela intensidade que era típica do nosso amor; em todos os abraços em que era possível ver o amor, se olhasse de fora; em todos os beijos que nos tiraram do chão; em todos os carinhos, simples, mas que expressavam simplesmente tudo que gostaríamos de dizer.
E elas - as lembranças - vem e voltam. Às vezes ficam por mais tempo, às vezes invadem completamente e deixam-nos sem defesa. Às vezes são mais brandas, às vezes parecem furacões, que passam destruindo o pouco que fomos capazes de fixar depois de tudo. Elas nos fazem querer os momentos de volta e, ao mesmo tempo, querer que seja diferente. Nos atormentam. Mas também nos fazem perceber que é importante que vivamos tudo intensamente, pois, o que pensávamos que iria durar a vida toda, pode não durar nem um segundo.