"Depois que você me deixou, eu encontrava meus cabelos apenas sujos e meu rosto borrado com a maquiagem de dias atrás: o preto do lápis fazia o caminho perfeito das lágrimas que eu já chorara. À minha frente, porta retratos com as fotos de momentos tão bons que invadiam minha mente, intrusos como assaltantes querendo arrombar o portão de casa. Em meu pulso a pulseira, a sua pulseira, a nossa pulseira que, acima de tudo que ela representava, ela significava que estávamos juntos. Tirá-la de meu braço e aceitar que sua representação não valia de nada, custou-me muitas lágrimas e olheiras. Em minhas mãos, unhas por fazer e pedaços de esmalte vermelho que mais pareciam gotas de sangue. Seu perfume invadia todo o quarto, pois fiz questão de espalhá-lo para que não pudesse jamais perder seu cheiro como te perdi.
Me perdi de mim mesma, porque você fazia parte de mim. Porque, de alguma forma, você estava em mim e, sem você, faltava um pedaço. Talvez o mais essencial para que eu pudesse me encontrar. Passei dias me procurando, sem sucesso. Noites em claro, desejando-te de volta. Noites mal dormidas, com sonhos que mais pareciam pesadelos, onde infinitas vezes se repetia a cena do dia em que você me deixou. E ela veio à minha cabeça por muito tempo... Aterrorizando-me.
Mas, de repente, eu me encontrei. No meio daquela sujeira e bagunça que virara a minha vida e o meu coração, eu encontrei aquele "eu" que não dependia de mais ninguém além de mim. Aquela essência. Aquilo que verdadeiramente era eu. Encontrei, junto comigo, todo o romantismo e sonhos que sempre possui, com ou sem amores. Minhas unhas novamente pintadas de vermelho, agora não representavam sangue e sim amor. Amor próprio. Na tentativa de esquecimento, a alegria brotou.
E, depois de me achar, encontrei-o. Lindo. Perfeito. Que era tudo que eu sempre desejara e ainda mais. Que era alguém que me fazia não pensar, por quem eu não derramava uma lágrima sequer, apenas compartilhava sorrisos. E, ainda assim, meu coração era cheio de saudade. A ausência esmagava-me e a outra presença parecia não supri-la de fato. Era como um curativo, mas não uma cicatriz.
Ele era como um sonho transformado em realidade, com olhos que me absorviam de tal forma que eu parecia estar dentro deles. Ele me fazia relembrar meus sonhos, minhas vontades, reafirmar quem eu era e perceber que aquela pessoa não dependia de outras para amar. Poderia amar palavras, pessoas, ou apenas o vento batendo em seu rosto.
Porém não adiantava coisa alguma, pois ele podia ser tudo - e, realmente, era... Tudo menos você."