Andou de um lado para o outro buscando o que dizer, como
dizer. Sabia exatamente todas as coisas que sentia, mas tinha medo de
expressá-las. Queria, de todo o coração, livrar-se desse peso enorme; dessa dor
que parecia não sarar nunca. Ensaiou milhões de formas de revelar e não
conseguiu. Escreveu em um papel apenas “Esse é o ponto final.” E acreditou
naquelas palavras como se o resumo de sua vida estivesse escrito ali.
Passado um tempo, ainda pensava com a mesma frequência e
sentia na mesma intensidade. Era uma tortura vê-lo ali, tão seu e, ao mesmo
tempo, tão distante. Desistiu de acreditar que tudo poderia diminuir, porém
teria que travar uma batalha com si mesma para realmente declarar o fim.
Escreveu-lhe uma carta.
“Eu tentei tantas vezes que não caberia nem nos números, eu
tentei tanto que minhas lágrimas secaram. E sabe o que eu tentei? Mostrar que
eu estava aqui. Eu desisti de tentar. Porque, afinal, sempre chego a essa parte
mesmo. Desisti de relembrar seus olhos nos meus todas as vezes, o seu sorriso
que se alargava ao me ver sorrir. Desisti de querer que nós fôssemos o que
nunca fomos. Eu te quis e ainda te quero, todos os dias. Aliás, todos os dias,
tardes, noites e madrugadas. Desejo-te ao meu lado como pássaros presos desejam
a liberdade. Porém eu descobri que muita coisa me aguarda além de você. Eu não
abriria mão de nós se... Bem, se. Só que cogitar o ‘se’ já não faz mais parte da
minha vontade. Queria que existisse algo injetável que me fizesse imediatamente
te esquecer. Mas, no final das contas, eu não quero te esquecer... Eu quero
apenas escrever para você. Escrever sobre tudo aquilo que minha imaginação
insiste em alimentar, contos-de-fada e toda a magia que vi quando nós nos
abraçamos.
Eu queria te entender e me entender também. Porque eu parei
de me entender desde quando me perdi no seu olhar. Eu continuei nele e continuo
lá até hoje, quando, certamente, deveria estar em outro lugar. Não desejei te
lembrar a cada segundo; não quis que meu coração acelerasse só de recordar.
Aconteceu. E eu gostei muito. Insisti muito na fantasia e isso não me fazia
mal, porque te imaginar comigo parecia alcançável. Não parece mais. Talvez eu
nunca tenha percebido que não pareceu nem por um segundo.
A vida não te trouxe para mim. Ela covardemente nos juntou
para nada. E eu sofri, chorei, mas e agora? Existe tanta vida lá fora. Outros
amores, outras dores e outras cores. E do que me adianta? Se tudo está lá e eu aqui. Eu continuo aqui sem você.
E esse é o ponto final da minha loucura chamada paixão.”
Nunca lhe entregou.
(Então, eu com o meu vício por cartas nunca entregues e sempre com trilhas sonoras.)